Mas os teus olhos pesam com queda surda e baque mudo através da menina, íris, sinal de sangue e eco suspenso, rapaz. Tu esconde, tu embola, tu submerge e sufoca para não trazer à tona, contudo minhas mãos-e-dedos-e-calos tremem a cada toque teu. E eu sinto. Sinto tanto. Sinto tanto, sinto-muito. Porque tuas palavras quase retalham o papel, tua melodia quase estoura as cordas, teus pincéis quase acidificam a tela. Porque teus passos afundam no concreto, teu leito escorre descaso e teus pontilhos fogem à regra. A dor que retalha, picota, desfaz e tricota teus dias, a impaciência que corrói e corrobora – e a paz, para onde fugiu?! E o amor, o bendito, o maldito, o não-dito, onde se escondeu?! E as cores, os sabores, os mundos e seus patamares superiores, onde foram cobertos?! É pique-esconde, tu repete, repete, mas logo cansa. É sina, tu declara, declara, e logo esquece. Eu capto, rapaz, cada gota e suor escorrido. Mas não te trago curativos e te deixo tragar amargura e cigarro empoeirado. Mas não te ofereço remédios e te deixo remediar os cortes com bebida barata. A água esvai, o pó permanece. E somos, eu e tu, dois serelepes melancólicos. Porque é egoísmo meu poupar-te do pão poético, da pena e do tinteiro lírico. Não te embalo. Porque é defeito meu desenrolar teus nós atados e cegos por ilusões que aludem às rimas. Não te acalento. Porque o suprimento meu, perfurando peito e carcaça humana, atravessando pontes e descobrindo âmago e fio de prata, não difere ao teu. O grito que ecoa – teu afora ou meu adentro? A inatividade que sufoca – pulos teus ou parada minha? É a compatibilidade do interior que nos torna, me torna, te adorna, um dupla tão compreensiva. E trememos. E falhamos. E somos falhados, feito caneta prestes a estourar. Um par de mãos-e-dedos-e-calos dados, como pesar que se apóia em pesar. Olhos, meus, teus. Quedas, baques, em dobro. Pesar nosso.
- Cláudia Clado
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