domingo, 27 de maio de 2012

Da Série: Filmes Inesquecíveis


Você me salvou de todas as maneiras que alguém pode ser salvo.
(do filme Titanic)

Curto e Raro


O bem mais valioso de nossa época é o tempo. Obedecendo à lei da oferta e da procura, quanto mais escasso ele fica, mais caro nos é. A seca temporal é geral: eu não tenho tempo, você não tem tempo, o Eike Batista não tem tempo, o cara que está vendendo bala no farol, em agônica marcha atlética para recolher os saquinhos dos retrovisores antes que abra o sinal, também não tem.

Há quem diga que a culpa é da melhora das comunicações, e consequentemente, da maior agilidade no envio de dados. Com a informação viajando tão rápido, desaprendemos a arte da espera. Antigamente, aguardar era normal. Estávamos sempre esperando alguma coisa chegar. Uma carta, pelo correio. Um disco, do exterior. Uma foto, um texto ou um documento, via portador. Esses hiatos eram tidos como normais. Uma brecha saudável, uma pausa para o café, a prosa, o devaneio, a conversa na janela, a morte da bezerra. Hoje, não. Tá tudo aqui e, se não está, nos afligimos.

Enquanto não descobrimos a cura para este mal, a única saída é aprender a lidar com ele. Há que cercar com muros altos certas horas do relógio, para que nada as possa roubar de nós. Fazer diques de pedra em torno da hora de ficar com o nosso amor, da hora de trabalhar no projeto pessoal, da hora do esporte, de ler um livro, de encontrar um amigo. Mesmo assim, vira e mexe, vêm as obrigações, como um tsunami, e derrubam as barragens. E não há nada a fazer, senão reconstruir os muros, ainda mais fortes do que antes. 


(via antonioprata.folha.blog.uol.com.br)

sexta-feira, 25 de maio de 2012




Consideramos justa toda forma de amor.
(Lulu Santos)


Para ter lábios sedutores, diga palavras doces. Para ter olhos que encantem, deixe que eles só reflitam verdade. Para ter os cabelos bonitos, deixe que o vento despenteie. Para ter um sorriso atraente, deixe que ele venha quando verdadeiramente tiver de vir. Para ter boa postura, caminhe sempre de cabeça erguida. Para ter as mãos leves, estenda-as ao próximo sempre que puder. Para ter a consciência tranquila, siga sempre seu coração. 

Gabi Roldão.

quarta-feira, 23 de maio de 2012


Tenho segredos que só eu sei, já vivi histórias que ninguém imagina e tenho um orgulho absurdo de ser quem eu sou. Bato no peito mesmo, não é qualquer um que passa por tudo isso e continua de coração aberto, peito aberto e sorriso aberto. Pode vir o que vier, pode acontecer o que for, quem fecha o coração pra vida é fraco. Eu sou forte.

(Teca Florencio)

sexta-feira, 18 de maio de 2012



Depois, bem depois, vem o tempo e nos mostra a verdade como se fosse um passo de dança. Suave, intenso, inteiro. Ele vem e mostra. E aí a gente olha para trás e pergunta: porque não agi diferente? Porque você não tinha o conhecimento que tem hoje. Não tinha a maturidade deste momento. Não te culpa. Não me culpa. A gente não tem culpa.


(Gabito Nunes)



Florescerá



 Ela se perguntava todas as noites: o que foi que a vida fez de mim? Ela fechava os olhos e se lembrava do passado, e de como outrora havia sido feliz. Ela olhava pra dentro de si e não enxergava nada que lhe desse uma explicação pro que sentia. E então ela rezava. Pedia baixinho pra todos os anjos que lhe mostrassem o caminho, que lhe dessem um motivo suficientemente bom para sorrir na manhã seguinte, ao acordar. Fazia uma oração como quem dedilha um piano - sentindo cada palavra que seus lábios, quase que em forma de música, sussurravam debaixo do cobertor. Antes do último pedido e já com os olhos cheios d'água, respirava fundo e hesitava, num breve momento em que a razão e o coração se debatiam quase como Jorge de Capadócia e o furioso Dragão. Finalmente, a hesitação passava e o coração dava a palavra final. Então, a garota pedia. Pedia para que um de seus anjos da guarda voasse de pressinha para perto daquele rapaz, com o qual ela havia vivido os melhores momentos de sua vida e por quem ela guardava um amor e uma doçura sem igual. Ela sabia que já não significava nada pra ele, e acreditava até que ele não mais a reconheceria caso a visse por aí. Ou fingiria não reconhecer para não ter que lhe dizer "bom dia". Mas, mesmo assim, ela não queria que ele corresse perigo. Ela não queria que ele ficasse enfermo, fosse de corpo, de alma, ou de coração. Ela queria que ele sorrisse, que ele ficasse forte, que ele se desse bem na vida. Ela queria que ele pudesse amar alguém como ela o amou um dia. Ela queria que ele também encontrasse alguém que, de tão especial, lhe fizesse desejar tudo aquilo que ela desejava agora. E então a garota virou-se para o lado e caiu no sono. Ouviu uma voz de criança que dizia: tudo ao seu tempo, será lindo o que virá. E sentiu seu corpo flutuar por um breve momento, percebendo que amanhã seria um novo dia. E foi.

 Ao amanhecer, ela abriu as cortinas e fitou o sol que, ainda tímido, tomava o céu de luz. Uma luz inacreditavelmente sutil, que clareava todo o horizonte - desde a ponta do seu nariz até onde os seus olhos podiam alcançar. Abriu os braços e sentiu, sem pressa, a brisa que entrava pela fresta da janela. Era domingo. Decidiu que não faria nada além de cuidar de si naquele dia. Tomou um banho bem demorado, colocou sua roupa mais confortável e saiu pra caminhar na praia. Passou o dia ali, admirando a bela paisagem que Deus desenhara cuidadosamente para lhe agradar os olhos. Observou as crianças brincando na areia. Se divertiu ao ver a menina passeando com os cachorros - eram tantos que mal os conseguia conter. Sentou para ver os corajosos que aproveitavam as ondas e o vento para praticar kitesurf. Tirou da bolsa o seu Ipod e colocou a playlist do Coldplay pra tocar em alto e bom som. Era sua banda predileta e a garota cantava sem vergonha de quem estivesse ali para ouvi-la. Não se preocupava com quem estava à sua volta, só queria sentir-se mais próxima de si mesma.

 Depois do pôr-do-sol, começou a caminhar de volta para casa. Viu um casal de velhinhos sentados no banco da praça, de mãos dadas e se olhando com tamanha ternura, que pareciam querer voar a qualquer momento. Como que em compasso com o coração da garota, o Ipod resolveu tocar uma música que significava muito pra ela. Parece até que ele sabia de quem ela iria se lembrar. Inevitavelmente, olhando aquele casal e ouvindo àquela canção, a garota se lembrou daquele velho rapaz. O mesmo por quem ela havia orado na noite anterior. Inacreditavelmente, ela se sentiu bem. Viu-se feliz e agradecida por ter motivos para lembrar. Sorriu, então, e entendeu que a vida segue. Que o amor se transforma, mas fica, de um jeito ou de outro. Fica, porque o que que foi bom e bonito não deve ser esquecido. Deve se renovar a cada dia no nosso baú de memórias. Porque nenhum homem vive sem memórias, nenhum homem vive sem amar. E, naquele momento, a garota entendeu que ela não devia se sentir envergonhada por lembrar e por se emocionar com as lembranças. Sempre vai existir alguém especial. E ninguém jamais despertará em você um sentimento nem sequer parecido como o que esse alguém especial despertou. É coisa de alma, não dá pra explicar. É o tipo de coisa que a gente só sente, mas não entende. Finalmente, tendo concluído isso, a garota continuou a caminhada. O Ipod tocou uma nova canção. Agora, de sua segunda banda predileta: Oasis. A garota cantarolou pra si mesma, no ritmo da música: não tenha medo, você nunca mudará o que aconteceu e passou.. seu sorriso irá brilhar e seu destino te manterá aquecida.. pegue o que você precisa e siga o seu caminho.. faça seu coração parar de chorar..'

Chegou em casa e a noite já havia caído. Tomou outro banho e colocou seu pijama. Ao deitar-se, fechou os olhos e rezou mais uma vez. Agradeceu verdadeiramente por estar aonde estava, por sentir o que sentia e por ter chegado onde chegou. Se deu conta de que tudo em que havia se tornado era fruto das experiências que viveu - das boas e, principalmente, das ruins. E agradeceu por essas experiências também. Parou de se culpar por sentir tudo o que sentia sempre ao se lembrar, e percebeu que certas coisas ultrapassam nossa capacidade de entendimento. Por isso não devemos tentar muda-las. Não pediu aos anjos da guarda que fossem cuidar do rapaz. Agora, pedia para que cuidassem dela mesma. Se deu conta de que, à essa altura, alguém já deve estar pedindo proteção por ele em algum outro canto do mundo. Ela não precisava mais fazê-lo, não lhe cabia mais essa tarefa. Mas continuava desejando-lhe o bem, sempre. 


Gabi Roldão.




Aceitei que deveria levar dentro de mim o projétil que não havia como retirar, a bala que se alojou num ponto que impossibilitava a extração. Um médico me diria, se eu tivesse procurado um médico, que é preciso se acostumar com esse corpo estranho e levar uma vida normal, como se nunca tivesse sido atingida.

Martha Medeiros.

quinta-feira, 17 de maio de 2012



Uma expressão perpendicular de um desejo horizontal.
(George Bernard Shaw)



Chega de fingir, eu não tenho nada a esconder, agora é pra valer.
Haja o que houver, eu não tô nem ai pro que dizem!
Pode me abraçar sem medo, pode encostar tua mão na minha, meu amor.
Deixe o tempo se arrastar sem fim, não há mal nenhum gostar assim.'

(Jorge Vercillo)

Eu quero da vida o que ela tem de cru e de bonito. Não estou aqui pra que gostem de mim. Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho. E pra seduzir somente o que me acrescenta. Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que as vezes me cansa. Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, voracidade e falta de ar! 

(Clarice Lispector)


Verbalizando


Mas muita coisa aconteceu e foi dita, qualquer minimo detalhe era pista. E cada pista me fazia enlouquecer mais um pouco. Agora não mais! Agora vivo tempos de paz. Faz tempo, mas só agora me senti a vontade pra dizer. Eu continuo assim, sempre as mesma lembranças. Mas não sou mais a mesma, mudei muito. Aprendi muito com a vida nos últimos tempos. Perdi gente importante, descobri novas vontades, aprendi a amar mais a mim mesma e, de certa forma, aprendi a amar outrem de maneira mais saudável. Eu tenho viso tanta gente de bem por ai, tenho me tornado tão mais humana, tão mais zen. Ainda lembro com detalhes de cada parte tua, ainda dou risada e me emociono quando lembro do que a gente viveu. Mas, sabe, eu descobri que dá pra amar alguém só na lembrança. Eu descobri que eu provavelmente nunca mais irei te ver ou te sentir ou te ouvir. Mas eu vou continuar amando seus olhos, seu toque e sua voz. Eu vou continuar amando sem que seja preciso qualquer esforço meu. Sem que seja preciso te ver e chorar, ou te ligar, ou querer voltar. Das várias coisas que eu aprendi, a mais importante foi essa. A gente não precisa deixar de amar os que já se foram pra ser feliz outra vez. A gente só precisa aprender a amar na lembrança, a amar sem precisar sentir dor ou falta. Esse papo de esquecer ou superar, não existe. A gente se acostuma, e se conforma, e se aceita num novo formato, e só. Daí a gente se liberta. E se apaixona de novo, e ama de novo, e chora de novo, e sente tudo de novo. E a medida que as coisas vão passando, a gente vai guardando tudo na memória. Algumas coisas irão te marcar mais, outras nem tanto. Mas você sempre vai se lembrar, e vai sentir outra vez. Não da mesma forma, é claro. Mas vai sentir. É inevitável. A gente só precisa aprender a canalizar os sentimentos, jogar fora o que não foi bom e guardar só o que foi, o que te fez feliz. A mágoa não compensa. Até porque, se você parar pra pensar, a mágoa só existe porque em algum momento você foi feliz. E, como tudo na vida, essa felicidade foi embora de uma forma ou de outra, te deixando magoado. Mas é preciso lembrar que ela não é a única. Outros sorrisos virão, outro brilho nos olhos. A vida é feita disso, de renovação. Um ciclo precisa terminar para que o outro se inicie. E, vai por mim, nenhum ciclo se encerra por acaso. 



Gabi Roldão.

Já ouviu falar em saudade?