sexta-feira, 25 de março de 2011

Um mistério chamado mulher,


Para entender uma mulher, é preciso mais que deitar-se com ela. Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa, que se possa prever nossa vã pretensão. Para possuir uma mulher, é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase.. numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade. Há de se conseguir fazê-la sorrir antes do próximo encontro. Para conhecer uma mulher, mais que em seu orgasmo, tem de ser mais que amante perfeito. Há de se ter o jeito certo ao sair, e fazer da saudade e das lembranças, todo sorriso. O potente, o amante, o homem viril, são homens bons. Bons homens são os de abraços e passos firmes. Bons homens são pra se contar e dividir histórias. Há, porém, o homem certo, de todo instante: o de depois, que se lembra para sempre. Para conquistar uma mulher, mais que ser este amante, há de se querer o amanhã. E, depois do amor, um silêncio de cumplicidade. E mostrar que o que se quis é menor do que o que não se deve perder. É esperar amanhecer, e nem lembrar do relógio ou do café. Para amar uma mulher, mais que entendê-la, mais que conhecê-la, mais que possuí-la, é preciso honrar a obra de Deus, e merecer um sorriso escondido em seus olhos. E também ser possuído e, ainda assim, também ser viril. Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la, há de ser conquistado. Todo tomado e, com um pouco de sorte, também ser amado.

(Carlos Drummond de Andrade)


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